sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um pouco sobre a política baiana

Hoje eu estava dentro de um ônibus Iguatemi-Barbalho. Entrei nesse ônibus na Praça da Piedade e tinha como destino o Barbalho. Passando pela porta do Colégio Central, paramos em um engarrafamento. Engarrafamento meio sem motivo já que ainda eram quatro horas da tarde.

Chegando mais perto deu pra entender que tratava-se de uma manifestação estudantil. Estávamos parados porque a Joana Angélica é uma rua estreita, de mão e contra mão, e era nela que os estudantes manifestavam-se por alguma coisa. Nessa tal manifestação, resolveram parar o trânsito, coisa que não é difícil nesta rua, mas um motociclista impaciente resolveu furar o bloqueio estudantil e foi barrado à força. Não vi direito a cena, mas pelo o que entendi pela correria e gritaria, o tal motoqueiro, irritado pela atitude dos estudantes, puxou uma arma. Não sei do que se tratava, não sei qual era a reivindicação, não vi arma nenhuma, mas gostaria de chamar a atenção para a reação dos não-manifestantes, dos não-estudantes que estavam no ônibus junto comigo.

Iniciou-se uma discussão quando um senhor dos seus 40 e poucos anos disse: "Bando de vagabundos! A polícia tem que meter o cacete nesses estudantes". Eu não me contive. Venho de uma família de comunistas, militantes estudantis e pessoas politicamente esclarecidas e respondi: "Ditadura de novo, meu amigo? O senhor pirou?". A partir daí apenas segurei minha boca e ouvi: "Um bando de vagabundo mesmo! Não sabem nem do que estão reclamando" e um outro completou: "Só atrapalham a vida de quem quer trabalhar. Manifestação não serve pra nada". E assim continuou a muito estranha conversa entre esses dois senhores, já que pelos meus cálculos eles têm idade suficiente para ter vivido a Ditadura Militar, ou ao menos ter ouvido falar dela.

Foi um exercício de paciencia escutar aquela conversa durante todo o percurso do ônibus. Eles falavam sobre a vagabundagem dos estudantes, suas drogas e sua molecagem. Falavam também da falta de utilidade da manifestação, em especial a estudantil, e criticavam o local de "rebeldia" dos estudantes. "Se querem reclamar, que reclamem na prefeitura, e não no meio da rua".

Por fim, tive que descer um ponto antes do necessário ao escutar o que pra mim foi a gota d'água: "Se você olhar as estatísticas, o maior índice de drogas e prostituição está dentro das escolas". Ao levantar ainda consegui dizer: "O Brasil está a merda que está por culpa de gente como vocês".

A tristeza é saber que minhas palavras foram em vão.
E viva São Salvador.

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